Corpos estranhos extra-oculares
Quem nunca teve um cisco nos olhos ?
Em décadas de carreira médica, vi corpos estranhos oculares tão variados quanto surpreendentes, fossem minerais, vegetais ou animais.
Basta sair à rua para que o vento nos traga poeira aos olhos. Quando as partículas se alojam por trás das pálpebras, com o piscamento elas atuam como uma lixa, produzindo abrasão na córnea. Este 'lixamento' da córnea lhe remove o epitélio protetor, expondo-a à infiltração de contaminantes inevitavelmente contidos na poeira - donde risco de infecção secundária ameaçadora.
Corpos estranhos vegetais incluem pólem, sementes, folhas e gravetos.
Mais dolorida do que a queimadura ocular por álcool, e tão dolorida quanto aquela causada por ácidos e soda cáustica, é a queimadura por algumas seivas vegetais, como a da Coroa-de-Cristo. A estória se repete: A pessoa trabalha sob o sol, podando a planta, com resíduos de seiva nas mãos, e, transpirando pelo calor, passa a mão na testa para remover o suor. Em seguida, mais suor se forma, e, escorrendo pelo rosto, transporta a seiva para os olhos. Dor e ardência são intensas, porque a seiva remove a camada de células protetoras da córnea, expondo seus nervos.
Também comuns são os insetos que se alojam entre o globo ocular e as pálpebras. Com algumas exceções, estes causam incômodo suficiente para que o paciente busque socorro profissional.
Muito comum é também o cisco de esmeril,
que, por ser muito quente, penetra as camadas anteriores da córnea,
necessitando anestesia local para remoção sob microscópio. Após a
remoção, cumpre fazer cuidadoso toilette da ferida resultante,
sob risco de cicatrizes que comprometeriam a transparência corneana -
ou, pior, necrose tecidual perfurante, que pode ocorrer em poucos dias.
Serralheiros que dispensam a máscara de solda
são vítimas comuns da radiação quente do eletrodo. O soldador nem
sempre percebe a lesão de imediato, porque as células epiteliais mortas
levam horas até se soltar da córnea, expondo os sensíveis nervos
corneanos. Nestes casos, devido à dor intensa, o soldador tipicamente
procura o pronto-socorro no meio da madrugada. Antigamente era comum os
soldadores terem à mão colírios anestésicos para aliviar a dor. A
proibição de venda aberta daqueles colírios veio justamente porque seu
uso impróprio inibe a cicatrização e motivou evoluções dramáticas.
Ironica e paradoxalmente, corpos estranhos que produzem dor imediata costumam ser menos perigosos do que aqueles indolores, porque, quando há dor, o paciente busca socorro médico antes que ocorram danos apreciáveis ao olho.
Quando se suspeita de corpo estranho ocular, ideal é buscar socorro do oftalmologista, que examinará o olho sob microscópio, eventualmente evertendo as pálpebras
à procura do corpo estranho em questão (e aplicando fluoresceína/solução de Rosa-Bengala para flagrar danos corneanos/conjuntivais que exijam atenção).
Quando isto não for possível de imediato, um procedimento doméstico válido é a tentativa de expulsar o corpo estranho do olho com jatos finos de soro fisiológico
ou de água (idealmente filtrada ou fervida), diretamente sobre o globo,
e entre este a as pálpebras.
Na falta de melhor recurso (e dependendo da urgência) dos males, o menor :
segurar uma mangueira de jardim com jato moderado de água (tratada) para cima e,
curvando-se sobre o jato, com o olho bem aberto, dirigi-lo sob vários ângulos
para que a água se insinue por trás das pálpebras na tentativa de remover o corpo estranho,
e procure oftalmologista tão logo possível.
Manobras instrumentais só devem ser tentadas por médico.
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Melhor (e menos dispendioso) do que tratar é prevenir.
Para jovens saudáveis, é suficiente um exame oftalmológico preventivo a cada 2 anos.
Após os 40 anos, todos os anos.
É bom critério usar a data do seu aniversário como lembrete para revisões anuais
com dentista, oftalmologista e ginecologista (mulheres) ou urologista (homens).
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dr VIC JOHNSON
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